quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

GENESIS - FOXTROT


GENESIS – FOXTROT

Pessoal, este mês, o álbum analisado é o Foxtrot, o que não é tarefa facial, pois é um trabalho carregado de genialidade em todos os aspectos. Se algum dia o ser humano não habitar mais o planeta Terra e por essas bandas aparecerem extraterrestres ou deuses que não nos conheceram e escutarem esse trabalho, dirão o seguinte: “Ah, então, eles eram assim!”. Tal é a variedade de aspectos do comportamento humano que esse disco aborda, questões como religiosidade, mitologia, história, literatura, sociologia, filosofia, ironia, cultura POP... Fora a concepção musical, que também é algo de outro mundo. Sempre digo para ouvintes iniciantes de rock progressivo que se você quiser saber o que é um disco progressivo perfeito, escute o Foxtrot do Genesis , ali você beberá direto da fonte. Genialidade não tem a ver com idade, mas sim com amadurecimento espiritual, porém sempre fico abismado de como esses garotos, com 22 anos apenas, conseguiram criar algo tão complexo e profundo. As questões abordadas nesse disco são tão delicadas que somente pessoas amadurecidas, vividas, experientes podem compreender ou conceber. É quase humanamente impossível um garoto abordar elementos tão complexos de forma tão brilhante como se vê aqui.

Após uma estréia não tão boa, com problemas de formação, e dois discos excelentes, a banda estabelece uma constituição definitiva que conta com Peter Gabriel, Phil Collins, Tony Banks, Mike Rutherford e Steve Hackett. A formação clássica e inesquecível do Genesis. Todos estão maravilhosos e inspiradíssimos. As letras, arranjos e os timbres sonoros são excepcionais, nada está fora do lugar. Vamos às músicas.

WATCHER OF THE SKIES

O disco começa de forma muito intrigante. Apenas o mellotron cria uma atmosfera de história de ficção científica para um conto de Isaac Asimov ou Phillip K. Dick. Aos poucos, lá do fundo ouve-se se sobressair um baixo acentuado e um trabalho de pratos, juntando-se a isso a guitarra. Até que tudo estoura com uma voz maravilhosa nos contando a história de um observador dos céus ( na minha opinião é um deus ), que chega à Terra após a extinção dos humanos. Letra sensacional, poética, moderna e visionária! O que muitos tentaram infrutiferamente expressar sobre esse gênero em poesia, o Genesis conseguiu. A música continua em evolução e o baixão Rickenbaker sola alto. Peter Gabriel, magistralmente, desenvolve várias nuances para esse narrador, alternando tons. Variações se sucedem entre coral, teclado, guitarra, baixo e bateria. A melodia é envolvente demais! O final da letra é de arrepiar:

Sadly now your thoughts
Turn to the stars
Where we have gone you know you never can go
Watcher of the skies watcher of all
This is your fate alone, this fate is your own

Um só coro informa o destino eterno do ser divino, observar sem interferir, solitariamente. Tudo acaba como começou, entretanto a carga dramática da história já nos leva a um outro sentimento em relação ao solo final do mellotron com a guitarra, agora já não sentimos mais só curiosidade, mas tristeza e reflexão. Nossa Senhora! Que introdução para um disco.

TIME TABLE

Piano destacado e instrumentação em harmonia introduzem esta calma canção que nos remete à Idade Média. Só que a abordagem dela é, para dizer o mínimo, genial. Aqui o cavaleiro medieval faz uma reflexão sobre o sentido da vida! Por acaso aí alguém já viu coisa parecida em uma música ?

Why, why
Can we never be sure till we die
Or have killed for an answer
Why, why, do we suffer each race to believe
That no race has been grander
It seems because through time and space
Though names may change
Each face retains the mark it wore

Tempo, espaço, destino, igualdade racial…são reflexões do cavaleiro. E quem disse que cavaleiros medievais não eram humanos? A melodia extremamente agradável nos embala e acalma. Lindo!

GET'EM OUT BY FRIDAY

Uma combinação perfeita entre teclado, baixo e guitarra introduz esta história irônica, contemporânea e de conteúdo social. Conta-nos a dificuldade de uma família em permanecer em sua habitação atual por conta do capitalismo. Um parêntese para a bateria que é destruidora! O vocalista empresta toda a sua versatilidade e talento para criar diversos personagens envolvidos na história, várias atmosferas originais e belas, ora acelerando ora diminuindo o ritmo sonoro, a fim de acompanhar o humor e a humildade dos envolvidos. Steve Hackett e Tony Banks soberbos nas variações. Finalmente chega a flauta transversal, que era só o que faltava. E o Rutherford provando que é um dos maiores baixistas de sua geração.

Ironia e sarcasmo na medida certa de uma crítica mordaz.

It's said now that people will be shorter in height
They can fit twice as many in the same building site
(they say it's alright)

Quanto menores as pessoas, mais espaço nas construções para aluguel!

MEMO FROM SATIN PETER
OF ROCK DEVELOPMENTS LTD.


With land in your hand you'll be happy on earth
Then invest in the Church for your heaven.

Já que na Terra tá difícil, um lugarzinho no céu é garantido!

Música toda quebrada, variada e complexa. Todos os cinco demonstrando extremo virtuosismo e entrosamento. Essa é um soco no estômago!

CAN-UTILITY AND THE COASTLINERS

Um dedilhado de violão inicia esta canção falando sobre navegadores que encontram um livro, o qual conta uma história sobre um ser que, aparentemente, seduz uma população. Novamente, extremamente criativos e entrosados, os músicos nos brindam com um show de harmonia e beleza sonora. Até que a música dá uma parada, dois violões seguem o mesmo e ritmo, a bateria acompanha, e é a vez dos teclados viajarem. O som ganha peso e o baixo enlouquece. A guitarra sola com a competência costumeira e a canção termina abruptamente, porém antes dá umas quebradas e variadas só para não perder o costume.

HORIZONS

Música instrumental só no violão, bela e cativante, a cara do Genesis! Steve Hackett demonstra também ser um grande violinista clássico além de tudo. Que linda música!

SUPPER'S READY

Como toda grande suíte, Supper’s Ready é dividida em partes. Cada parte compõe uma história individual que, ligada às outras, constitui um todo. Já quero adiantar, para não ficar comentando o tempo todo a mesma coisa, que nesta música espetacular tudo, mas absolutamente tudo, está sensacional. Todas as variações, solos, acompanhamentos, nuances vocais, quebras de ritmos, passagens...transcendem ao que entendemos por originalidade, competência e emoção. Neste momento, estamos tratando de uma composição que nos coloca em um plano de percepção que eu não consigo descrever em palavras. De qualquer maneira, vou tentar dar a minha contribuição.

Lover’s Leap

A canção inicia de forma acústica, com os instrumentos acompanhando a história de um casal que, em uma noite qualquer, percebe algo diferente em seus olhares. Os vocais afiadíssimos de Mr. Gabriel e Mr. Collins dão o tom. Climão construído pelos instrumentos de sempre mais a flauta transversa entremeado pelo belo coral.

The Guaranteed Eternal Sanctuary Man

O tal casal parece transportar-se de casa para uma outra realidade ou percepção, agora encontram-se frente a dois homens, um é fazendeiro e o outro uma espécie de cientista. A música torna-se empolgante com o teclado ditando o ritmo. A bateria insinuante carrega a cozinha. E a guitarra nos brinda com lindos efeitos. Até que tudo pára e a flauta introduz vozes de crianças, aparentemente referindo-se... ao demônio?

Ikhnaton and Itsacon and Their Band of Merry Men

Então os amantes deparam-se com soldados negros que preparam-se para uma batalha. Agora a música tem uma grande variação, teclado, bateria e guitarra solam enquanto o narrador continua a sua história. As coisas vão se acalmando aos poucos até que permanece só o teclado em alerta.

How Dare I Be So Beautiful?

Ao som do teclado, o vocal nos relata o fim da batalha e a chegada do casal a um campo verdejante onde encontram a figura mitológica de Narciso. Presenciam uma estranha mutação no rapaz, ele transforma-se em uma flor.

Willow Farm

Neste momento, a música acelera e vira uma espécie som animando um parque de diversões criado por Lewis Carroll, cheio de aberrações!

Até que tudo muda, e os namorados têm uma visão da rotina de suas vidas terrenas. É muito engraçada e interessante as brincadeiras de vozes diferentes narrando essas peripécias. A trilha sonora disso tudo continua bem singular e divertida.

Apocalypse in 9/8 (co-starring the delicious talents of Gabble Ratchet)

Os sons da guitarra e teclado denunciam que as coisas começam a tomar um outro aspecto, bem mais sério. A flauta transversa, linda, destaca-se, enquanto um dedilhar de violão a acompanha. Os amantes estão de volta à Terra, e bem no momento do Apocalipse, os arautos do demônio já estão a postos esperando a tão aguardada figura para o momento de decisão. O som explode em tensão e a progressão dos teclados com a bateria é simplesmente inexplicável para mim! Só ouvindo!

666 is no longer alone
He's getting out the marrow in your back bone
And the seven trumpets blowing sweet rock and roll
Gonna blow right down inside your soul.

É, meu amigo, o negócio pega fogo!!!

As Sure as Eggs is Eggs (aching men's feet)

Quando parecia tudo perdido, ouve-se um som de sino e o rufar de tambores, a música torna-se emocionante e o narrador descreve a chegada de um anjo que salva os humanos.

There's an angel standing in the sun
And he's crying with a loud voice
"This is the supper of the mighty one"
Lord Of Lords
King of Kings
Has returned to lead his children home
To take them to the new Jerusalem.

Neste momento é muito difícil segurar as lágrimas. A música acaba de forma absolutamente ESPETACULAR!!!
Pessoal, esta é a minha análise, espero que vocês gostem, pois, desta vez, me deu bastante trabalho. Gostaria de ler a opinião de todos sobre esse disco maravilhoso que mora no coração de todos nós!
Um abraço a todos! JORGE ALENCAR

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