sexta-feira, 11 de novembro de 2011

NEIL FERREIRA


FHCite aguda, o mal incurável do Cacico

Neil doutor de anedota Ferreira

“De médico, poeta e louco todo mundo tem um pouco”, afirma a vox populi vox Dei, nunca antes desmentida nesse paíz.

Na cidadezinha em que nasci no interior de Sumpólo, testemunhei em repetidas ocasiões uma roda de velhinhos com ares de profunda sabedoria, bebericando o aperitivo da tarde no boteco do meu tio, comendo com prazer sensual denunciado por olhares lascivos e bocas cheias d´água, os salgadinhos tira-gosto que a minha tia fazia com mão de santa.

Do alto de sua sabença adquirida através dos anos, que inexoráveis embranqueceram e/ou derrubaram os cabelos das suas cabeças depositárias de conhecimentos existenciais incalculáveis, diagnosticavam qualquer mal que acometia algum chegado, sumido da douta roda.

“—É o figo”, a junta médica unânime sentenciava, cada um dando um curto gole (pra durar mais) na mais afamada cachaça de cabeça de alambique da região, “A Presidenta”, assim batizada por um marquetero local para concorrer com o desapontador conhaque “Presidente”.

“—O figo do cumpadi Túlio destrambelou” dizia outro, dando uma cusparada na escarradeira colocada no chão ao lado da cadeira, para secar a boca e evitar que o excesso de saliva aguasse a talagada que viria em seguida, bebum de fina cepa que era.

O cumpadi seria condenado à morte pelo juri reunido no boteco, antes mesmo que a primeira rodada evaporasse : “-- O cumpadi foi pra Avaré com a família, no táxi do Pipo; vai voltar de caminhão”.

Ir para Avaré com a parentada espremida no táxi do Pipo, todo mundo vestido de missa e lenço no pescoço para proteger o imaculado colarinho branco da poeira vermelha da estrada de terra batida, era péssimo agouro.

Minhas tias beatas, não a que fazia os salgadinhos tira-gosto, essa não tinha tempo ocioso para isso, magérrimas de tantas abstinências feitas para garantir um cantinho no céu, espiavam pela janela, benziam-se e baixavam o decreto-lei: “—Todo mundo rezando pelo cumpadi”. Rezavam pra valer incontáveis “Pai Nosso” e “Ave Maria”.

A sobrinhada, que nada tinha a ver com isso, era obrigada a rezar sob pena de tortura da Santa Inquisição, como a brutal proibição de ir à matinê do domingo, para seguir o seriado do “Tarzan”, com Johnny Weissmuller.

Não sei quando a macaca Chita assumiu o papel de “leading lady” no lugar de Jane, a branquela chatinha, protagonista do famoso diálogo “Me... Tarzan; You... Jane !”

É “famoso diálogo” porque anterior e mais duradouro do que o também famoso, entre o policial francês corrupto “capitão Renault” (Claude Rains) com “Rick” (Boggy), numa cena de “Casablanca” (1942), quando o capitão Renault fala para Rick: “—E agora prendemos os suspeitos de sempre”, depois que “Ilsa” (Ingrid Bergman) deu uns tiros no peito de um oficial nazista e se mandou de avião para Lisboa.

Não cito a histórica frase atribuida à Ilsa “Play it again, Sam”, porque ela só existe no imaginário dos apaixonados por cinema, nunca foi pronunciada no filme. Mas há outra, dita quando os dois amigos e cúmplices dirigiam-se em direção ao “final fade out”. O capitão Renault, irônico, fala para Rick: “—Eu só não sou o pior elemento desta cidade porque você existe”.

Avaré era uma cidade de vibrante progresso, pouco maior do que a minha, distante umas cinco léguas; era sede de comarca e tinha Santa Casa.

Ir no táxi do Pipo era a crônica da morte anunciada; voltar de caminhão era voltar na carroceria, estendido dentro de um caixão de defunto.

É com base nesta sólida formação médica, com PhD adquirido nas séries “E.R.”, alma mater do George Clooney, “Grey´s Anatomy” e “Private Practice”, que ao ouvir os primeiros rumores de que o Cacico estaria sofrendo de séria doença, murmurei com a turma da minha roda do pastel da feira da Granja Viana, sob olhares duvidosos : “Não é o figo”. Desta vez não era, para geral admiração.

Não me refiro ao recente mal que o acometeu. Ele é forte e tem a torcida e as orações do país inteiro para que vença essa. Modesto, embora tenha escolhido uma clínica popular pra se tratar, o Sírio Libanês, sempre poderá fazer um “up grade” para o SUS, que atende a zelite, especialmente a que vem de Brasilia de jatinho, como casal Sarney, por exemplo. Vai vencer sim, não tem erro.

O verdadeiro mal incurável e insidioso que nele se instalou, do qual percebi há uns oito anos os sintomas, ignorados pela junta médica que dele cuida, é aquele cujo nome não se pronuncia, a não ser se benzendo com discrição: FHCite aguda.

O Cacico falou, o Cacico avisou, ninguém notou. Todos os dias, tomado de terror pela figura do assombração, o Cacico conta no dedos da mão esquerda seus títulos “Honoris Causa”, para ver se ganhou mais do que FHC. Perde sempre; e esperneia, espuma, grita, xinga; soube que já se cogitou de imobilizarem- no com camisa de força. Nem Freud, aquele pilantra ex- segurança do Cacico, explica.

A FHCite aguda contaminou do dedo minguinho do pé ao cérebro, ou seja lá o que for que ele tenha debaixo do cocar de penas azuis. Essa virou FHCite galopante, não tem quimioterapia que dê jetio.

PS: Os encapuzados que tentaram assumir a Reitoria da USP através de um golpe de Estado, foram gentilmente removidos pela PM. Pegaram seus carros último tipo e voltaram para as casas da Mamã ou do Papá; como se sabe, nas classes altas como no lúmpen as famílias com mais de um filho têm bem mais de um pai.
LUPI É A BOLA VEZ; CHUTA LOGO O PÊNALTI, CACICA.
TELA: salvador dalí

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