segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ROBERTO ROMANELLI MAIA

CAMINHANDO SOBRE O DESERTO
 
ROBERTO ROMANELLI MAIA
ESCRITOR, JORNALISTA E POETA
 
Em minha última viagem, estive meditando sobre alguns aspectos relativos à natureza e ao comportamento do ser humano.
São observações feitas durante cerca de 40 anos como escritor e jornalista que conheceu pelo menos 72 países, alguns mais, outros menos.
Elas tratam da aridez, da indiferença, da omissão, da monotonia e da rotina como fatores impeditivos na busca pela felicidade. 
Do encontro, por tantos, em número cada vez maior, de um vazio existencial e de uma extrema e visível solidão.
Constatei a ausência do verdadeiro amor, como sentimento dominante, entre aqueles que nos cercam, no dia a dia de nossas vidas e mesmo quando distante do meu país pude observar a presença da violência, do desamor, da guerra sem sentido, e do ódio entre seres humanos.
Eu me vi, não raras vezes, diante da ausência de uma  preparação interior, para enfrentar o deserto em que se tranformam muitas vidas, ao se sentirem perdidas, inseguras, isoladas e sós!
Verifiquei que a crença da maioria, sobre esse deserto interior, está equivocada e distorcida, já que ele é muito mais que um lugar tórrido e seco, com  tempestades de areia.
É o habitat de diversas formas de vida e de comportamento, que devem ser observadas!
Chamo de deserto espiritual o tempo em que deveríamos aprender a nos recolher interiormente,  adentrando  no nosso eu, para conhecê-lo melhor.
Sem o medo do desconhecido, que conduz à paralisia e à anestesia interior e exterior.
Sim, somente através de uma profunda introspecção chegaremos a um auto-conhecimento, que nos fará capazes de enfrentar os nossos medos interiores e de percorrermos caminhos, muitas vezes plenos de uma aridez emocional, não raramente acompanhada de dor, de tristeza, de decepção e de sofrimento.
Nessa caminhada, certamente encontraremos lembranças ruins, traumas e cicatrizes, que foram vividos e  sentidos, mas que não nos impedirão, se não permitirmos, de buscar os verdadeiros caminhos que nos levam à felicidade.
E ao olharmos para as estrelas, perceberemos que assim como aquele que caminha no deserto, devemos caminhar em nosso interior com toda cautela, para que tudo aquilo de negativo que encontrarmos pelo caminho, não nos cause  um mal maior, do que aquele para o qual estamos, ou acreditamos estar preparados, em nosso dia a dia.
Precisamos saber enfrentar cada adversidade com esperança e uma fé profunda em nossa capacidade de reação e de renovação interior.
Se para tanto tivermos que viver em um deserto espiritual, transformemos esse momento, em que nos recolhemos ao nosso interior, num  momento para o auto-conhecimento, para a busca de uma cura interior, e para um encontro com a nossa própria libertação.
Sim, somente em base a uma  crença e a uma fé profunda, em um Ser Supremo real e verdadeiro, dentro de nós, e não aquele criado e construído pelos homens, à sua imagem e semelhança,  poderemos caminhar em nosso interior, enfrentando toda espécie de desafios e de adversidades que possam surgir em nossas vidas.
Faz parte deste processo de aprendizado e de treinamento para a vida o reconhecimento  de que passamos por momentos difíceis, que nos deixam marcas profundas, e criam fantasmas em nosso interior. Com a certeza  de que temos de encarar tudo isso, enfrentando estas situações, para que  possamos alcançar nossa meta principal : o encontro com o nosso  eu .
Esse "ego "  está em algum lugar, dentro de nós, muitas vezes perdido, sufocado e escondido por  traumas e medos, por  fantasmas que nos assombram.
Sim, erra quem nega ou ignora que o nosso eu interior é como um oásis em meio ao deserto,  difícil de encontrar, mas de importância fundamental para o nosso equilíbrio físico e mental.
E deixa de viver mais plenamente quem desconhece que a  sobrevivência depende de encontrá-lo. Porque ninguém pode ser feliz, nem pode buscar a felicidade, se não encontrar primeiro a si mesmo!
Somente através desse deserto, que muitas vezes temos de atravessar em nossa vida, alcançaremos o maior dos nossos encontros: aquele com o nosso eu interior.
Um encontro definitivo e marcante, que vai nos permitir  conhecer a nós mesmos, para que assim possamos chegar a nossa verdadeira e mais profunda identidade.
E, por mais difícil e doloroso que possa ser,  não podemos fraquejar, nem desanimar em nossa busca.
Temos que seguir em frente, superando esses medos e fantasmas interiores.
Assim, ao enfrentarmos todos os nossos traumas e cicatrizes interiores, poderemos de fato tapar as feridas do nosso interior, mesmo que em razão desse enfrentamento venham as lágrimas, que deixaremos rolar à vontade! 
Sim, que elas venham, e irriguem a aridez de nossos deserto. Que o limpem e que o purifiquem, retirando toda a areia espiritual que possa estar incrustada no eu, em nossas vidas.
Que estas lágrimas possam nos transformar num real e verdadeiro oásis e numa fonte de água cristalina, para aqueles que fazem parte de nosso convívio.
Para que nós possamos ajudá-los, também, em seus momentos de aridez e de deserto espiritual!
No final, o que conta  é sabermos que através desta travessia pelo deserto estaremos mais fortalecidos e preparados para encarar "as realidades" deste mundo, mais firmes e fortes para enfrentar as adversidades que surjam.
E estaremos prontos para ser um amparo, e uma mão aberta e estendida, para nós mesmos e para os nossos irmãos, que ainda não passaram por este momento de aridez e de deserto físico, mental e espiritual . 

Um comentário:

Anônimo disse...

Acabo de voltar de uma boa temporada por todo o Chile e tive a mesma sensação. Você continua escevendo como nunca.

Bjs


Edi